Jornalista pesquisa em presídios o papel dos livros na rotina do cárcere e no processo de libertação, real e figurado e mostra importância da leitura em projeto de redução de pena.
Da Editora Appris
23/02/2024 — 00h22
Jornalista e apaixonada por literatura, Amanda Antunes Bueno decidiu escrever "Eu sou a minha liberdade" ao saber que os presidiários estão entre os maiores leitores do país. A confirmação dos números veio de uma reportagem: a média de leitura do brasileiro atualmente é de 2,55 livros por ano, lidos do início ao fim, mas em uma unidade prisional do Distrito Federal chegava até 36 títulos, em 2018. O livro da autora, que chega às livrarias e plataformas on-line pela editora Appris, traz entrevistas com detentos e detentas de Florianópolis, além dos professores que acompanham o processo, retratando sem preconceito histórias atrás das grades. O lançamento em Lages será no dia 27 de fevereiro, às 19h, no Espaço Cultural Aristiliano Ramos, no calçadão da Praça João Costa.
“Ao participarem do projeto Despertar pela Leitura, que faz remição de pena em Santa Catarina, é possível diminuir quatro dias de pena, mediante o cumprimento dos requisitos e participação ativa do programa. Essas pessoas passam a sonhar com uma realidade melhor, para si e para as próximas gerações da família. É como aconteceu com Anderson, que aos 11 anos foi apreendido pela primeira vez e aos 12 já andava armado. Em uma de nossas conversas, confidenciou que não achava que passaria dos 25 e já ia fazer 30. ‘Não tem só o lado mau que impera. Se hoje eu não tivesse o aprendizado, poderia estar morto’, contou. Ou como Joel, que ao ler, estudar e cursar uma faculdade durante os 15 anos em que ficou preso, despertou também nos filhos o sonho de acessar a universidade e mudou o rumo de toda uma geração da família”, diz Amanda.
Consciente de que presídio e direito humanos são temas polêmicos em um país de tanta polarização, a autora acredita que não falar sobre um problema não fará com que ele deixe de existir. Ao lembrar que o Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo, ela acrescenta que é impossível não pensar em saber mais sobre essa realidade:
“Vivemos alheios ao que acontece ao redor, sem perguntar motivos e consequências das coisas. A leitura nos dá a possibilidade de superar os limites de nossas realidades individuais. Mergulhar em qualquer leitura torna necessário despirmo-nos de generalização e preconceito. Tive acesso a uma realidade que poucas pessoas conhecem e pela qual menos ainda se interessam. É preciso conseguir olhar para as coisas como são, e não como gostaríamos que fossem. As pessoas com quem conversei têm personalidades, histórias e trajetórias completamente diferentes e suas histórias, além da privação de liberdade, têm mais um fio condutor em comum: a leitura. Em muitos aspectos, a vida por trás das grades permanece envolta em mistério para muitos de nós, confinados em nossa própria bolha social. É fácil aceitar as narrativas apresentadas por manchetes ou seriados de ficção, mas é sempre bom irmos atrás de informações que apresentem a realidade como ela de fato é. Só assim poderemos ter uma visão menos estereotipada do mundo e dos seres humanos”.
Amanda Bueno reforça o poder transformador da leitura em "Eu sou a minha liberdade". Segundo ela, alguns leitores do cárcere não se restringem às páginas que precisam comentar depois de lidas. Ela cita o caso do detento Torres que, na cozinha do presídio, lê embalagens dos produtos, imaginando histórias e roteiros por trás de cada pacote. “Quanto mais informações, melhor para a cabeça viajar e se fazer presente na cidade de origem do alimento”, escreve a autora.
“Muitas vezes, quando falava sobre o tema do livro a alguém, ouvia que ‘eles têm tempo de sobra, é claro que dá pra ler tudo isso’. Será que ler em um ambiente em que predomina a hostilidade, o barulho do metal que bate e se choca constantemente, lembrando a cada minuto que você está ali, preso, é tão fácil assim de ignorar? Afinal, para alguém que vive por anos em uma cela superlotada, rodeado de metal, concreto e vigilância, a experiência de leitura significa a mesma coisa que para alguém que opta por ler no conforto do sofá de casa? Enquanto alguns presos buscam a liberdade física, estes acabam encontrando uma forma de liberdade interior através da leitura. O quanto nós, em liberdade de ir e vir todos os dias, estamos aprisionando nossas mentes ao deixar de instigá-las através da leitura?”, questiona Amanda.
No prefácio do livro, o jornalista Mauri König, vencedor de vários prêmios no país, entre eles dois ExxonMobil (antigo Prêmio Esso de jornalismo), elogia a determinação da autora em seguir com a obra, mesmo com tema desafiador:
“Narrativas jornalísticas em primeira pessoa costumam soar egocêntricas. Não é este o caso. A autora entra na história como, digamos, um alter ego do leitor, ao descrever suas impressões, incertezas, medos e reações num ambiente em que ninguém gostaria de estar. Ao ouvir do agente penitenciário a frase ‘Bem-vinda ao inferno!’, Amanda poderia ter dado meia-volta, mas não o fez. E, enfim, temos aqui o resultado das muitas coragens de Amanda.”
MAIS SOBRE A AUTORA
Amanda Antunes Bueno nasceu em Lages em 26 de maio de 1996 na Serra Catarinense. Jornalista formada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sempre fez seus trabalhos norteada por um mesmo objetivo: fazer ecoarem as vozes de seres humanos que têm muito a dizer, mas nem sempre a possibilidade se serem ouvidos. Foi finalista do Prêmio Exposição de Pesquisa e Produção Experimental em Comunicação (Expocom) Regional Sul, da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, a Intercom, na modalidade livro-reportagem. Atualmente desenvolve comunicação para a Loja Honolulu, empresa que em 2024 completa 32 anos de história na cidade.
A autora escreveu seu primeiro livro aos 16 anos de idade, quando em 2011 desafiou o pai dizendo que até o natal daquele ano lhe entregaria a obra. “Ele ficou sem acreditar, e eu comecei naquele dia e terminei corri durante aqueles 3 meses como doida para finalizar, já que havia dado minha palavra. Não tinha a intenção de publicá-lo, então ele permanece como livro de cabeceira de meu pai, como sempre foi desde que o presenteei”.
Amanda ainda ressalta que o Jornalismo a inspirou para a produção do livro que está lançando agora. “Eu Sou Minha Liberdade” teve início na produção de tema para o trabalho final de graduação em Jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “Deparei-me com uma reportagem da Exame que mostrava que detentos do Distrito Federal chegavam a ler 36 livros por ano. Aquilo mexeu comigo. Este número supera – e muito – a média de leitura do brasileiro, que é de 2,55 livros lidos do início ao fim anualmente”. Escrevi este livro por acreditar que a reflexão e a empatia só vêm quando unimos dados, números e relatórios a histórias de gente que represente o que eles significam.
Como jornalista e apaixonada por literatura, fui imediatamente instigada a pensar nas consequências que a leitura poderia ter na vida de pessoas privadas de liberdade.
SERVIÇO
O quê? Lançamento do livro “Eu sou a minha liberdade", de Amanda Antunes Bueno;
Onde? Espaço Cultural Aristiliano Ramos, Calçadão da Praça João Costa;
Quando? Dia 27 de fevereiro, terça-feira, 19 horas;
Como adquirir o livro? No dia do lançamento ou pelo site da editora Appris, em https://bit.ly/4bn1M7n com desconto de 20% até o dia 05/03/2024! Basta aplicar o cupom ANTUNESBUENO20
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